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O papel da Paradiplomacia na internacionalização das empresas

Durante o século XX, as empresas foram ganhando importância no panorama internacional, ao ponto de se converterem em um novo ator nas relações internacionais. A globalização permitiu o incremento da circulação do capital, assim como o desenvolvimento de uma cadeia produtiva global, gerando padrões e rotinas diferentes dos adotados pelos atores clássicos – os Estados e posteriormente as Organizações Internacionais. Dessa forma, inseriu-se uma nova dimensão no cenário global, caracterizada pela diplomacia empresarial. Todavia, nem todas as empresas possuem infraestrutura ou capital necessário para atuar no cenário global, ficando este papel ainda concentrado nas grandes corporações e nas multinacionais.

Apesar dessa concentração, mesmo que uma empresa não esteja participando ativamente no cenário global, todas são igualmente impactadas. Desde a grande empresa até o pequeno produtor, a competitividade internacional está presente no seu dia a dia. Quando um produtor rural participante de uma cooperativa vende seu produto no mercado local, fatores externos moldam sua realidade. Isso pode se dar pela competência de outros produtores internacionais, que exportam o mesmo produto a um preço mais competitivo, por oscilações do mercado de capitais, ou até mesmo mudanças no marco legislativo em relação a importação de insumos necessários para sua atividade. Um exemplo pode ser o caso dos fertilizantes, que atendem as decisões estratégicas da nação ou as movimentações do mercado global.

Desde a grande empresa até o pequeno produtor, a competitividade internacional está presente no seu dia a dia.

Sendo assim, as pequenas e médias empresas são duplamente pressionadas. Por um lado, por não conseguirem gerar um grupo de influência grande o bastante para exercer pressão nos formuladores políticos de seus países e, por outro, por não conseguirem a representatividade internacional necessária para influenciar a dinâmica mundial.

Nesse contexto, a Paradiplomacia surge como uma solução para essas pequenas e médias empresas, já que um dos intuitos dos órgãos paradiplomáticos é justamente fornecer maior representação e competitividade para sua região no contexto internacional.

A Paradiplomacia permite uma maior representatividade das atividades realizadas dentro do território ou estrutura subnacional representada, fortalecendo-se nas características oriundas de cada região e permitindo que pequenas e médias empresas possam obter maior visibilidade.

Regiões produtoras buscam uma maior participação internacional, defendendo seus interesses e buscando uma redução do impacto das grandes decisões internacionais. Outras buscam promover e procurar oportunidades. Existem associações que reúnem governos subnacionais focados em determinados temas, tais como a “Os 4 motores para Europa: Catalunha, Rhone Alps, Lombardia e Baden” ou a “mercocidades”.

Também existem agências setoriais que atuam em escala internacional, além de diversas representações de governos subnacionais e organismos ligados aos mesmos. São exemplos: o Governo da Catalunha, o Governo de Quebec, o Governo de Rhone Alps, o Governo de São Paulo, o Governo do Rio de Janeiro, etc..

A Paradiplomacia – diferentemente da Diplomacia oficial – permite uma maior flexibilização e agilidade nos processos internacionais e ações focalizadas, formando várias áreas de atuação. Um órgão subnacional pode criar uma agência para a promoção turística de uma determinada região, uma agência setorial para defender os interesses de um ou vários setores, ou um serviço de representação com fins políticos próximos a centros de decisões internacionais, tais como Washington, Londres ou Bruxelas.

Esses organismos paradiplomáticos também podem auxiliar a empresa em sua internacionalização, por meio de acordos de cooperação técnica, projetos setoriais, criação de clusters, missões empresariais, rodadas de negócios, realização de eventos, participações em feiras internacionais, dentre várias outras atividades.

A internacionalização das empresas é uma tendência crescente, porém os órgãos diplomáticos oficiais nem sempre estão preparados para atender aquelas de pequeno e médio porte. Estas precisam passar por todo um processo de aprendizagem para poder atuar no mercado internacional, sendo vital o papel dos organismos paradiplomáticos no processo.  Esses organismos possuem uma proximidade maior com a sua realidade empresarial e, consequentemente, uma maior sinergia com a mesma. Além disso, sua atuação internacional está focada na cooperação e parceria entre regiões.

A Paradiplomacia atua, então, como vetor para a internacionalização de pequenas e média empresas na medida em que busca incrementar a representatividade e competitividade de uma determinada região no contexto global. Também é uma forma de atrair investimentos e gerar um aumento da visibilidade da região.

Algumas regiões já possuem representações oficiais no exterior e agências de promoção econômica, como são os casos de QuebecFlandres e Catalunha. No Brasil, Estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná já possuem agências focadas na atração de investimentos. Entretanto, há ainda muito a ser feito na área de internacionalização de pequenas e médias empresas. O Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio a Empresa), juntamente com a APEX (Agência de Promoção Exterior do Brasil), são os órgãos que concentram tal atividade, mas acabam limitando a atuação de municípios e, consequentemente, afetando a representatividade internacional e o uso do potencial local de cada região que forma o Brasil.

* Wesley S.T Guerra é formado em Negociações e Marketing Internacional pelo Centro de Promoção Econômica de Barcelona, Bacharel em Administração pela Universidade Católica de Brasília e especialista pós-graduado em Ciências Políticas e Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo – FESPSP, Mestre em Políticas Sociais e Intervenção sociocomunitária com Especialização em Migrações pela Universidad de La Coruña (Espanha). Fundador do CERES – Centro de Estudos das Relações Internacionais e especialista em paradiplomacia do Governo da Catalunha.

Artigo publicado em: https://ceiri.news/o-papel-da-paradiplomacia-na-internacionalizacao-de-empresas/

Bibliografia:

KEISER, Robert., Subnational Governments as Actors in International Relations: Federal Reforms and Regional Mobilization in Germany and the United States, Stuttgart, 2000.

SASSEN. Saskia. The Global City: Strategic site, New Frontier. Managing Urban Futures, 2016.

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