Por que muitos Profissionais de RI sofrem da síndrome do impostor?

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Você já deixou de se candidatar a uma oportunidade de emprego por medo de não ser qualificado o suficiente? Já deixou de fazer a inscrição para um programa de mestrado ou de bolsas mesmo tendo preenchido os requisitos centrais? Já pensou que não é merecedor do sucesso que tem alcançado em sua carreira?

Essa sensação de insegurança e incapacidade está presente em carreiras generalistas e muito abrangentes, e, principalmente, por não vermos delimitações e standards que balizem a seguir em frente e ter confiança. Ela é conhecida popularmente como síndrome do impostor.

É comum acreditar, quem está passando por isso, que os outros são mais qualificados, em especial aqueles de outras áreas tidas como “especializadas”, e que eles possuem melhores condições de entrar no mercado de trabalho. É preciso entender que os paradigmas de cada carreira são diferentes, por isso não podemos dizer que os outros não sofrem, mas que seus medos e incertezas são outros. Eles precisam fazer o caminho inverso do internacionalista, ou seja, virar generalista e se manter especialista em sua área.

Bom, você não está sozinho nessa. Muitos internacionalistas que conheço relatam passar por algo parecido, e eu sofri com essa síndrome. Ela faz você pensar que não é capaz, que não deve se expor, que os outros são melhores, que não é merecedor do que conquistou, que não está preparado o suficiente. Você passa a acreditar que você é uma fraude e que a qualquer hora será descoberto.

Leva algum tempo para nos darmos conta disso e, estudando e trabalhando com Relações Internacionais, isso ocorre por não sermos especializados em um único assunto, falando de forma global de muitos temas. E, além de tudo isso, custa entender que não existe um ponto na nossa trajetória onde possamos dizer que somos profissionais completos. Não existe.

Além do mais, nós possuímos pouquíssimas informações sobre o mercado de trabalho para Profissionais de Relações Internacionais e, por vermos poucas oportunidades, acabamos confirmando todas as frustrações, gerando ansiedade e até mesmo depressão. Um tema muito sério.

Por isso, recomendo que veja com mais carinho e atenção, caso se identifique com o que estou descrevendo.

Hora de romper essa síndrome nas Relações Internacionais

Para superar isso, é preciso entender que não existe internacionalista completo. Levei muito tempo e passei por muito sofrimento até começar a aceitar minha formação, minhas capacidades e entender que sou merecedor de tudo o que tenho conquistado. Deixei de fazer comparações com outros profissionais, passei a conversar meus amigos sobre desenvolvimento pessoal, e deixei de querer ser mais qualificado que os outros [esses também são outros sintomas muito comuns].

Nossa formação é abrangente, tem inúmeras vantagens nisso. Como profissionais generalistas, conseguimos identificar com melhor clareza macro cenários, gerando associações entre diferentes temas e tópicos.

Outros profissionais que competem pelo mesmo espaço que o internacionalista são os que possuem conhecimento “profundo” de um tema, como por exemplo economia, e desenvolvem conhecimentos amplos.

Não existe uma vaga “Contrata-se Profissional de Relações Internacionais”. Esquece. Relações Internacionais é ainda visto como um campo de atuação, e, em algum momento, qualquer profissional com formação de especialista pode começar a desenvolver atividades que abarquem as Relações Internacionais. E ele vai, aos poucos, adquirir conhecimentos amplos e específicos do campo, ou seja… vai ganhar mais características de internacionalista ao longo dos anos.

O quanto antes você descobrir qual é o seu “core business”, melhor. Dessa forma, você vai saber em qual área do conhecimento deve se aprofundar, quais habilidades desenvolver, quais idiomas falar, quais profissionais integrar ao seu networking, etc. Você pode, aos poucos, ao encontrar uma oportunidade, desenvolver essa balança entre domínio de temas amplos e de temas profundos. De fato, todos os profissionais desenvolvem um equilíbrio nessa equação, tanto os especialistas quanto os generalistas.

Ademais, os profissionais de Relações Internacionais possuem um domínio razoável de uma série de disciplinas, por isso têm maior maleabilidade e capacidade de se adaptar a novos cenários. Está melhor preparado para quadros de incertezas. Essa é uma vantagem que precisa ser sempre lembrada e passada para os empregadores como uma vantagem e caraterística profissional frente outras carreiras.

Para superar essa síndrome, é preciso conversar com outros profissionais, entender que todos possuem inseguranças e buscar realizar os seus sonhos.

Generalista 

  • Conhecimento razoável sobre um ampla gama de temas/cenários.
  • Recursos limitados espalhados por uma variedade de opções.
  • Sucesso moderado na maioria dos cenários; falha limitada.
  • Melhor abordagem em cenários incertos e desconhecidos.

Especialista

  • Bem preparado para um ou alguns temas/cenários.
  • Recursos limitados estão consolidados ou unidos.
  • Alto sucesso em cenários específicos; falha amplificada.
  • Melhor abordagem em cenários previsíveis.

Parta para a ação

Nossa carreira é muito ampla, exige muita qualificação e não existe um perfil padrão a ser seguido. Você é qualificado para muitos projetos e pode gerar muito valor para a sociedade, por isso é preciso ser resiliente. O caminho precisa ser trilhado, não existe uma forma rápida. Livre-se de todas essas amarras. Evite ao máximo o vitimismo e desenvolva uma estratégia para atingir resultados profissionais.

Comece conversando com outros profissionais, acompanhando pessoas que possam compartilhar experiências e jogar luz na sua trajetória. Aprender com os erros e acertos dos profissionais que estão no mesmo caminho é uma ótima forma de encurtar o caminho para a realização profissional e para evitar a síndrome do impostor.

Comece a observar as oportunidades que estão aí, mas que não são ditas. Por exemplo, envie um currículo para uma empresa que gostaria de trabalhar mesmo não tendo aquela vaga disponível. Mostre interesse em aprender uma nova função e que pode fazer cursos específicos para aprimorar e dominar as ferramentas necessárias.

Mostre você é capaz de aprender, de entregar resultados.

Não deixe passar aquela oportunidade de cursar mestrado, de viajar. Envie currículos, conte sobre os temas e qualificações que possui. Agora que o mundo está em busca de profissionais polivalentes, não há mais motivos para se esconder. Tenha consciência o quanto antes de sua condição, prepare-se para as oportunidades, mostre que você tem vontade de crescer e aprender.

Faça esse teste para confirmar se você possui essa síndrome: aqui.