Poderia me resignar e simplesmente abandonar meus sonhos, mas segurei muitos choros, outros chorei mesmo, e aguardei o momento que a vida começaria a mudar. Um fato seguia me incomodando, e não era novo, pois ainda durante a graduação me agoniava com a falta de espaço para interação e integração profissional. Ainda na faculdade lancei as bases do Relações Internacionais e dos grupos em redes sociais para criar um espaço de reflexão e debates.
Parei um momento para entender como seria possível construir as bases para que algo acontecesse e por fim ser reconhecido como profissional. Reconhecimento é algo que vem dos outros e não de você, mas primeiro é preciso ser construída. A sociedade, por tudo que foi entregue de informação e, especialmente, de valor, passa a entender e a construir um significado para aquilo que você é.
A identidade é coletiva. Quando se trata de uma profissão, há uma noção intra e extra classe sobre o profissional e o que a sociedade pode esperar ou imaginar sobre. A única reação da sociedade era dizer “que chique”. Não era isso que eu esperava. Essa resposta significava/ca: “não sei o que você faz, mas deve ser algo útil para alguém ou que nunca se realizará, e não vou ir além desse comentário”.
Parte da responsabilidade por aquele comentário era minha, pois não conversei abertamente sobre como o profissional poderia realmente transformar a sociedade. Talvez por não ter ainda a clareza, pois estava imbuído nas minhas próprias fantasias sobre o que era ser profissional.
Identidade Profissional – quais elementos e construções são essenciais
A identidade profissional é composta por um conjunto de características próprias e exclusivas, desde instituições, símbolos, narrativas e competências. E, para que ela apareça, é preciso que as relações sociais sejam postas em primeiro plano, e devotada em todos os contextos cotidianos, pois é com a constância que se cristaliza.
Existem diferentes nuances de identidade profissional, mas os elementos comuns e característicos vão ser constitutivos dos demais. Você como profissional é único por aquilo que faz e é capaz, mas compartilha o significado de ser internacionalista com todos os demais. O internacionalista pode atuar com meio ambiente ou comércio exterior, assim como um engenheiro civil pode atuar com geotécnica, estruturas e transportes, mas o fato de ser internacionalista é imutável, comum e compreensível por todos.
Humor
Alguns elementos, por mais surpreendentes, são fundamentais: humor e crítica. Em uma sociedade de feedback zero e de autocríticas pesadas, rir da própria desgraça nem sempre é fácil, mas deve ser tomada como um reavaliar de situações negativas e problemáticas, quais nem sempre queremos falar. Em 2015 criei a página de humor “RI Paranoicas”, e o primeiro ato humorístico foi publicar esse meme: “Relações Internacionais: único curso que você entra sabendo o que faz e sai sem saber o que faz”.
Oportunidades
As vagas e as oportunidades disponíveis representam muito o que há e o que a sociedade já entende sobre o papel do internacionalista no desenvolvimento da economia, dos negócios e do seu papel dentro das empresas. Para entender esse cenário, sempre acompanhei e compartilhei, através das minhas redes, as vagas que chegam até mim. Mas, ao ver outras carreiras, notei que era necessário fazer uma agência especializada nesse público, assim nascia o VagasRI.
Eventos
Os encontros profissionais são fundamentais em todas as carreiras para unir pessoas com o propósito de criar uma identidade, trazer encaminhamentos e soluções. Pensando nisso, planejei um evento que pudesse congregar profissionais, que fosse acessível e capaz de reunir pessoas de todos os cantos do Brasil. Em 2018 iniciei essa jornada, realizando em fevereiro de 2019 a primeira edição do Congresso de Relações Internacionais, foram mais de 3700 pessoas inscritas. A próxima edição já tem data: de 23 a 29 de Março de 2020 e o tema é “Formação e Consolidação da Identidade e do Campo De Atuação Profissional”.
Associação
O papel dessa entidade sem fins lucrativos é congregar profissionais para debaterem e desenvolverem o campo, desde descontos e benefícios com outras empresas e instituições, promoção de atividades para conscientização, até frentes para abertura de empregos.
Em 2019 fui convidado para fazer parte da ANAPRI — Associação Nacional dos Profissionais de Relações Internacionais — e auxiliar no desenvolvimento de atividades que impactassem positivamente a comunidade de internacionalistas. Propus o “CONCURSO CULTURAL – Relações Internacionais – O que podemos fazer juntos para um amanhã melhor para todos?” para que a comunidade pudesse contribuir com a formação da identidade profissional.
E o que você precisa fazer?
A valorização do profissional de Relações Internacionais requer atuação constante e verdadeira. Apenas por meio da formação, da comunicação e da integração seremos capazes de trazer os encaminhamentos necessários para transformar o campo profissional e entregar para a sociedade aquilo que ela precisa, muitas vezes, sem nem imaginar.
Em suma, são inúmeros os elementos que marcam uma profissão e podem variar com o tempo para atender as novas demandas e características esperadas pela sociedade. Para que as empresas e a sociedade passem a entender a identidade do profissional de Relações Internacionais é preciso: interagir e integrar. As oportunidades estão no mercado ocultas, muitas prontas para você, mas elas precisam ser reveladas.
Procure escrever sobre as oportunidades que podem ser exploradas pelas empresas e entidades da sua cidade. Proponha visitas técnicas e reuniões com agentes públicos e privados para discutir as oportunidades e o potencial a ser explorado por meio de ações impulsionadas como: internacionalização, atração de investimentos, cooperação técnica, feiras de negócios, etc.
É preciso romper barreiras psicológicas e quebrar os estigmas sociais sobre o que é ser internacionalista. Dessa forma, assim como o administrador é convidado a tecer comentários sobre gestão, ao invés de ouvir “que chique”, vamos ouvir “o que aconselharia de ações para minha empresa se tonar mais conectada e preparada para as oportunidades e desafios internacionais?”.